Lembranças ficam na sua memória e vão sendo filtradas e processadas ao longo do tempo pelas informações que seu cérebro recebe todo dia. Algumas você guarda em armários, baús, na forma de cartas, álbuns de fotos, utensílios, etc., acreditando estar preservando parte importante e/ou feliz de sua vida. O que acaba sendo uma verdade.
Dos vinte e poucos anos em que fui fotógrafo profissional ficou uma montanha de negativos e cromos dos trabalhos que fazia e dos lugares que visitava, quase sempre a serviço. Imaginava fazer uma seleção, montar um portfólio, para compartilhar algumas lembranças, para mim caras. De boa intenção o inferno está cheio. Vez em quando, vasculho o material, “agora vai”, mas o trabalho acaba interrompido por alguma foto que me leva ao passado.

Estava eu em Humaitá, no Amazonas, a fotografar as obras do que seria uma pequena hidrelétrica, quando após o trabalho, me arrisco a uma volta pelos arredores, enquanto aguardava transporte para prosseguir viagem.
Indiferentes ao seu entorno, dois ribeirinhos curtiam a vida adoidado, batendo uma bolinha e construindo castelo de areia, numa linda prainha do Rio Ipixuna.
Era a vida real na cara do fotógrafo que tentava dar vida a obras de engenharia.

Memórias, como os sonhos, não envelhecem.
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