Aí pelos 1980 me dirigi ao melhor estabelecimento de fotos para documentos, em Belzonte, embora tivesse um estúdio devidamente equipado para realizar muito tipo de foto. Mas era uma foto para passaporte, com especificação minuciosa do órgão competente -formato 5x7cm, fundo claro, etc., etc.- e não quis correr o risco de nada dar errado. Afinal era meu primeiro passaporte, para a Bolívia, que à época exigia visto para o cidadão brasileiro que pretendesse entrar lá, legalmente.

Confesso ter ficado decepcionado com o reflexo dos refletores nos óculos e cônscio que teria feito, pelo menos, igual. Mas a repartição aceitou a foto, interesse primeiro. Décadas depois, a utilizei no facebook e recebi enxurradas de comentários elogiosos. Entenda-se um negócio desses.
É notório o desconforto de todas as pessoas que conheço com as fotos que tiram para documentos. Sempre achando que o retrato não corresponde à imagem que fazem de si próprios. Será que idealizamos muito? Pois quando o porteiro vai pro cara/crachá aceita numa boa que aquele ali retratado é você.
Com o advento da fotografia digital, muitas repartições passaram a fotografar, elas mesmas, para os documentos no momento de sua emissão. De Cara deram toda a razão aos que tinham horror das 3×4, com a iluminação pobre, e problemas de volume e profundidade, dignas dos piores momentos dos lambelambe. Só que quando o freguês via, já estava com o documento na mão. Hoje contam com estações mais modernas.




Com a proliferação do digital e o surgimento dos smartfones surge um fenômeno contrário, em que as pessoas se encantam com sua imagem e deixam de fotografar paisagens e monumentos, escondidos atrás de felizes e sorridentes rostos, as famigeradas selfies. Mas esta é outra conversa.
Assim somos nós. Inseguros diante do retrato feito pelos outros, orgulhosos com a imagem que fazemos de nós mesmos. Mexer nas gavetas ajuda a encontrar a dimensão oficial de nossa figura.
