
Pessoas que nos visitam comentam: – que delícia morar aqui!; – que sossego!; – que clima gostoso! e por aí vai. Confirmam o ditado: vida boa é a dos outros (que não têm nossos problemas). Confesso que em parte têm razão. Vivo como gosto, no lugar que escolhi. Quem sabe isso não contribui pra provocar essa visão romântica nos visitantes.




Na roça, vivem milhões de seres invisíveis que, entre outras funções, produzem alimentos pros habitantes das cidades e matéria prima para a indústria. Por sua invisibilidade nunca são lembrados pela sociedade na hora de receber o mínimo necessário para uma vida digna: infraestrutura, segurança, saúde, educação. Costumeiro o aviso das professoras aos alunos relapsos: – estuda, menino, se não você vai viver sempre na roça. E todos sabem o tamanho do êxodo rural.


Viver na roça é precário, viver da roça, uma corrida de obstáculos. O cabra é o último elo da cadeia, quando compra, o primeiro, quando vende. Em português: compra caro e vende pelo menor preço. E tem que administrar fatores sobre os quais não tem a menor governança: falta ou excesso de chuva, aquecimento global, políticas econômicas dos governos ou humores de gerente de banco.
Por que então um fidumaégua larga as maravilhas da vida urbana e se embrenha no mato? Atavismo, talvez. Insanidade, diagnosticou o gerente do banco ao negar um custeio pra maracujá sem o obrigatório pacote ‘tecnológico’ de adubo sintético e venenos. Desafio, sonho, muita coisa explica. Ou tudo junto e misturado. O fato é que estamos aqui. Vivendo. E de portas abertas pra receber todos os que nos dão o prazer de vir até aqui, no Genipapo. Pode chegar.
