
Cearense faz uma festa danada com a chegada das primeiras chuvas, prenunciando o início do inverno. Celebração alegre e espontânea das águas que caem do céu. com direito a banho nas biqueiras e muitas manifestações de júbilo. Nunca entendi porque os telejornais não fazem matérias sobre o evento, a exemplo das que fazem sobre outros que ocorrem anualmente.

A chuva faz parte do ciclo da água, devolvendo à terra a que foi para o espaço pela evaporação e pela transpiração das árvores. Aqui chegando, se infiltra no solo, abastecendo o lençol freático e fazendo brotar as nascentes que dão origem aos rios. De quebra, fornecem a água necessária ao metabolismo das culturas anuais de milho, feijão, arroz e das culturas perenes. Tempo de nadar e brincar nos rios cheios e açudes. No Ceará (como, de resto, em todo o Nordeste), quando o céu fica coberto com aquelas nuvens cor de chumbo, dizemos que o tempo está bonito, ao contrário do que diz a moça do tempo da tv.

A percepção da chuva pelos humanos varia conforme o lugar onde moram. No sertão e litoral, mais quente e seco, é a melhor época do ano. Aqui na serra, úmido e melado, levava os ricos e remediados a passar o inverno no sertão, obrigando o vigário a transferir a festa de São José para o final de agosto. E nas grandes cidades é sempre um grande tormento pelos transtornos que causa.

Mês passado, a mídia trouxe muitas reportagens sobre a tragédia causada pelas chuvas nas grandes cidades da região mais desenvolvida do Brasil, com ápice em Belo Horizonte. Imagens dantescas, números expressivos, mostrando bem a qualidade desse ‘desenvolvimento’. Expostos os efeitos, pouco vi de análise sobre as causas. Parece até ser natural que um fenômeno repetido anualmente há milhares de anos pegue desprevenidos os habitantes de uma metrópole.Não se pensa em perguntar os por quês ou é inconveniente fazê-lo? Sei não. O que sei é que a chuva tinge de verde a caatinga, trazendo beleza, alegria e alento para o sertanejo.
