Noções de cousas

Bulindo nos armários, deparo com este boletim de mais de 100 anos, que me chamou a atenção. Além dos previsíveis ‘Procedimento‘, ‘Civilidade e asseio‘, ‘Português‘, ‘Arithmetica‘, ‘Geographia‘, um surpreendente Noções de cousas‘. Consulto um professor, que responde: “Não sei ao certo, mas me parece aquilo que os pedagogos chamam hoje de temas transversais. Imagino que é por isso que pessoas daquela época não eram sem noção como encontramos nas elites e autoridades de hoje.” Tá certo.

Mais que nunca, a vida exige que a gente tenha noção das coisas. Entender que o vírus é invisível, mas real. Não tem religião, ideologia, nem filiação partidária. Apenas se dissemina e se multiplica conforme programado pela natureza. E não vai se assustar com toscas palavras de ordem, zurradas raivosamente por ricos ignorantes, por mais caras que sejam as SUVs onde desfilam. Apenas o conhecimento e a Ciência podem achar a chave para enfrentá-lo. Somos obrigados a repensar nossas certezas, nossos valores, nosso modo de viver.

Nada será como antes. O sistema social e econômico que praticamos mostrou-se absolutamente incapaz de enfrentar este tipo de ameaça. É hora de olhar para o futuro exercer a criatividade e a inovação, abandonando viseiras e dogmas. A falsa dicotomia entre salvar vidas e salvar a economia é uma das coisas mais sem noção já vistas, fruto da mente de psicopatas. Afinal, a economia é uma construção humana, não fazendo o menor sentido sacrificar vidas para salvá-la. Isso cheira mais a seitas e práticas religiosas primitivas, daquelas que se vê em filmes de exploradores, que a argumento lógico e racional.

Weiwei fala que no início de toda tragédia está a ignorância. Digo, está a falta de noção. Como a do juiz, supostamente estudado, letrado e concursado, que confundiu R$26.000,00 com R$256.000.000,00 e foi replicado por muita gente, dita alfabetizada. O que você vê nas redes sociais ou nas carreatas de gente chique, incapaz de cozinhar um ovo ou lavar um prato, é de fazer chorar na rampa. Sem dúvida, tinham razão os padres do Collegio Diocesano Sobralense em exigir que seus alunos tivessem Noções de cousas pra não os envergonhar no futuro.

Adaptando Samuel Johnson para o contexto brasileiro, Millôr Fernandes foi preciso: O patriotismo é o último refúgio do canalha. No Brasil, sempre o primeiro”. Antes dele, Castro Alves já falava “Exite um povo que a bandeira empresta/P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!… / E deixa-a transformar-se nessa festa / Em manto impuro de bacante fria!...

100 carros, que se lotados carregam 500 pessoas, 0,019% da população de Fortaleza, em carreata pedindo o fechamento do Congresso Nacional, do STF e outro AI-5. Não fazem a menor ideia do que estão pedindo, pois o Congresso apoiou todas as medidas propostas pelo presidente, o STF passou pano em todos os seus malfeitos e nem sabem se o AI-5 é por via oral ou injetável. E não se dão conta que se estão na rua zurrando qualquer coisa, por mais idiota que seja, é porque vivem numa democracia. Não dá pra ser mais SEM NOÇÃO que isso.

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