Construtor(es) de sonhos

Tem pessoas e lugares que marcam sua vida de forma definitiva. No meu caso, a Fazenda São Joaquim e as pessoas que a fizeram existir. Um lugar mágico, que encantava quem o conhecia, construído, com muito esmero, trabalho e amor, por uma gente que fazia as coisas antes de reclamar dificuldades.

Um oásis no sertão. Água vinda do açude, correndo dia e noite, abastece a casa. Laranja, tangerina, manga, banana, coco da praia saem dos pomares para a feira e cidades próximas. Os roçados, tocados de meia com os agricultores da localidade, produzem abundância de feijão, milho, farinha, enchendo os paióis. Um locomóvel move a fábrica, com serraria, engenho de cana, pilador de arroz e um gerador que fornecia luz elétrica das seis às nove da noite. Luz elétrica e água encanada, luxo inexistente nas sedes dos municípios do interior, na época. E a gente nem se perguntava porque ali, na fazenda, tinha isso tudo. Só mais tarde me dei conta disso.

Hoje, 14 de abril, é o aniversário de uma pessoa chave nessa história. Ariolino Santos, o Dr. Ariolino, engenheiro de minas e civil, pela Escola de Minas de Ouro Preto, que dedicou todo o conhecimento adquirido e os primeiros 20 anos de sua carreira para mudar a paisagem daquele sertão e melhorar a vida dos entes queridos. De sua cabeça sai o projeto, endossado e laboriosamente construído por ele e seus irmãos. Um diferencial da família, ali não existia eu e sim, nós. Isso provocava espanto e admiração dos de fora.

As obras e inovações tornaram a fazenda um local muito procurado por agricultores e técnicos curiosos e interessados. E também pelos que curtiam o lazer, um banho de açude, uma pescaria ou um papo nas redes da varanda. Ariolino acabou voltando pra cidade grande, por conta dos estudos dos filhos, pois sabia como era a saudade da família com a separação. Mas de lá nunca se afastou, mesmo nos longos anos de estudos em Ouro Preto, atualizado em detalhes pela correspondência epistolar do irmão mais velho, que ia das fofocas ao preço dos gêneros. Com o desenvolvimento das telecomunicações, instala lá um telefone pra conversar diariamente com os manos até o último dia de sua vida.

Dr. Ariolino e seus irmãos e irmãs construíram sonhos. A gente pede a benção.

2 comentários Adicione o seu

  1. Jorge C caram disse:

    Bonita historia,e que realmente fica da vida.
    Indiretamente participei,e adorava cutucar o tio e aí escutava duas horas sobre a Fazenda,os irmãos e a construção do açude a cada ano.
    Realmente é uma bela HISTÓRIA

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    1. Teu pai foi testemunha ocular, in loco. Inclusive, presenciou, atônito, o renascer da caatinga nas primeiras chuvas, ficando muito impressionado. Obrigado.

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