Dizem que sua origem data do século XVI, na França, por ocasião da adoção do calendário gregoriano, mas na verdade, já os romanos pregavam peças por ocasião do equinócio da primavera, séculos antes. De toda forma, desde que nascemos nós todos, o 1º de abril era o dia dos trotes e pegadinhas, alguns leves, outros mais pesados, que a gente tinha de tomar cuidado pra não cair e fazer papel de bobo. Não por acaso os países de lingua inglesa o chamam de April Fool’s Day.
Nem sempre, com êxito. Em 1983, a Veja, que na época podia ser considerada revista semanal de informação, comeu tremenda ‘barriga‘ ao levar a sério uma matéria de 1º de abril da revista inglesa New Science, sob o título de Boimate. Nem mesmo as pistas fornecidas pela publicação inglesa, Universidade de Hamburgo, cientistas Barry Mcdonald e William Wimpey, suscitaram desconfiança na editoria de ciência da congênere brasileira. O engano foi desfeito pelo Estadão, meses depois, levando a Veja a publicar um erramos.
Infelizmente, este episódio não deixou uma lição. A grande imprensa brasileira, Folha, Globo, Estadão, Veja e afins, desabituou de checar os fatos que publicam e começou a noticiar versões que atendem os interesses de seus donos e patrocinadores. Gritante, o episódio da reforma do famoso triplex do Guarujá, que teria sido desmentido por uma simples visita de um fotógrafo ao local, como demonstrado posteriormente, sem que ninguém pulicasse um erramos.
No Brasil, vivemos atualmente um longo 1º de abril. Que começou na imprensa partidarizada e se espraiou nas redes sociais, querendo demonstrar o axioma de Goebbles que uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade. A velocidade com que se publica quantidade inconcebível delas está abalando seriamente o raciocínio das pessoas. Poucos questionam os absurdos publicados. Vão logo replicando, como se fosse a verdade revelada.
Foge ao espírito brincalhão da data a postagem feita pelo presidente da república de uma mentirosa crise de abastecimento na Ceasa de MG. Da mesma forma, o ministro da justiça noticiar levianamente a soltura de um elemento que nem preso estava. Apagar o post não elimina a gravidade do fato. Pelo contrário. Mais responsável que as autoridades, o Google não está fazendo as brincadeiras de 1º de abril neste empo de pandemia.
Vamos fazer por onde a mentira só tenha espaço um dia por ano, e mesmo assim apenas por motivo de chacota e gozação. Usemos a ferramenta localizada entre nossas orelhas pra exercitar a lógica e o bom senso. E pratiquemos o amor, que como lembra o poeta, “as mentiras de amor não deixam cicatrizes”.
E repudiemos, com veemência, mentiras que espalham desinformação e ódio, que só provocam destruição e desgraça. Aí teremos certeza de um mundo melhor ao fim desta pandemia. E que no ano que vem podemos voltar à tradição do 1º de abril, com criatividade e alegria.
