
Moradores do litoral sempre estão ameaçados de despejo desde que os portugueses invadiram o Brasil, em 1500. Ao tomar posse da terra, em nome do rei de Portugal, Cabral ignorou os povos que aqui viviam e o receberam de forma fidalga, inaugurando uma prática, presente até hoje, de usar o terror, a violência, as armas, o aparato legal e o judiciário para legalizar a rapina.



Quem conhece cidades de praia sabe que nativos e pescadores foram afastados de sua morada original. Até comunidades nativas, descobertas pelos hippies nos 1970, sedes sonhadas de um modo alternativo de vida, como Canoa Quebrada e Arembepe, foram tomadas de assalto pelo turismo predatório, sendo rendidas pelo capitalismo explorador.





No entanto, parafraseando Goscinny&Uderzo, uma comunidade de irredutíveis prainheiras&prainheiros ainda resiste ao invasor. Conscientes de seus direitos e de sua história, os habitantes da Prainha do Canto Verde lutam para preservar sua terra, seu modo de vida, seus saberes, com firmeza, determinação e coragem. A união em torno do interesse coletivo, a posse da terra onde vivem desde 1860, foi a poção mágica a lhes dar forças para enfrentar os diabólicos invasores. Ganharam batalhas importantes, mas o inimigo ainda está na espreita. Depois de derrotados num fajuto usucapião, o instrumento preferido dos grileiros, se dedicam a fomentar a desunião da comunidade, numa tentativa de melar um modelo de desenvolvimento que beneficie a todos e não só a uns poucos. Quando é cada um por si, Deus sempre será do contra, é uma verdade.





O título desta postagem foi tirado, com aspas e tudo, da dissertação de Mestrado de Márcia Ribeiro de Lima, prainheira criada nos valores de sua gente: Memorial de Canto Verde : saber de vida e luta do Povo do Mar. Fica o crédito, o agradecimento e a justificativa de não me ter sido possível obter licença prévia. Cai como uma luva no assunto. A íntegra do trabalho pode ser vista aqui. A luta das pessoas da Prainha de Canto Verde gerou diversas dissertações e teses, comprovando que sua história deve ser conhecida e estudada. Fica a recomendação e o convite para saber mais sobre o lugar no site da Associação dos Moradores da Prainha do Canto Verde, neste endereço. E tenha certeza que um Brasil melhor é possível.
