Rima rastêra

Certa ocasião, uma amiga comentou com ar de enfado – o pessoal do Nordeste gosta de falar em versos. Antonio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, num diálogo com um poeta urbano, letrado, fala – Pra toda parte que eu óio/Vejo um verso se bulí. O povo do Nordeste gosta mesmo de uma rima. E constrói uma bela narrativa de sua vida e de sua história em versos simples e poderosos. O citado Patativa do Assaré é o exemplo. Nunca tive tal engenho e arte, restando-me a admiração e saudável inveja.

Minha vida profissional me obrigou sempre a andar por variadas paragens deste Brasil e um dia chego a Monteiro, na Paraíba. Incrível cidade, de sol forte e claro, casario bem cuidado, largas ruas e avenidas no paralelepípedo feito no capricho, sem uma gota de asfalto. Sem dúvida a cidade para abrigar a Pousado dos Poemas, escritos no muro e na recepção e apartamentos.

Mas o mundo é grande e o sertão é maior, já se disse e o caminho traz surpresas, revelando que a falta de versos prejudica a mensagem, por mais relevante que seja o tema.

A vida continua e a gente acaba chegando a São José do Egito, em Pernambuco, modestamente autointitulada de Berço Imortal da Poesia. O que realmente me impressionou na cidade é que os motoqueiros usavam capacete. Acabei registrando os muros.

Por certo a rima não é a solução. Mas a vida em versos tem outro sabor.

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